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  • Renato Gomes

Dia Internacional da Mulher, conheça a história

Desde o início do Séc. XX é comemorado o Dia Internacional da Mulher, mas ao contrário de outras datas criadas pelo comércio, essa é marcada por uma árdua luta por direitos e igualdade. Da caça as bruxas nos séc. XV á XVII, passando por um incêndio numa fábrica nos EUA no final do séc. XIX, e as lutas pelo direito ao voto, chegando enfim aos dias atuais

(Todas a fontes para o artigo serão inclusos ao final do texto)


Nos dias atuais pode parecer um absurdo para algumas pessoas, mas as mulheres já foram tratadas, na sociedade, das mais cruéis e discriminatórias formas possíveis.


Hoje já nos acostumamos a ver mulheres fortes em posições sócio-políticas de muito poder, como Angela Merkel (Chanceler da Alemanha), e a chefe do Banco Central Europeu, Christine Lagarde, ou então nossa brasileira Andrea Marques de Almeida (CFO da Petrobras), mas nem sempre foi assim.


Durante toda a história da humanidade, muitas mulheres se levantaram contra o sistema que lhes era importo, mas infelizmente a grande maioria delas acabou sendo vítima de uma sociedade machista, e por vezes violenta demais.


Mas a luta dessas mulheres, mesmo daquelas anônimas, não foi e nunca será em vão.


Para entender melhor os fatos principais que marcaram a existência da data do Dia Internacional da Mulher, como sendo o dia 8 de março, vamos apontar e explicar a partir de agora numa linha cronológica desses acontecimento.


Levando em conta fatos e momentos marcantes na história.


Idade Média e a Caça as Bruxas


As bruxas sempre foram uma ligação entre mito e razão ou entre ficção e realidade, pois elas se encontram na imaginação popular, que é disseminada pela cultura e pelos costumes de uma sociedade.


Arqueólogos encontraram em cavernas do período neolítico símbolos e desenhos que representam a adoração aos deuses. Desde o surgimento das primeiras civilizações, o homem buscava adorar deuses que mesclavam proteção, respeito e divindade, como uma forma de confortar a busca por aquilo que não se compreendia ou aquilo que não existia e que se buscava uma explicação.


Com o início do Cristianismo e sua disseminação pelo mundo, crenças, rituais e costumes passaram a ser perseguidos e rotulados como pecaminosos, pois acreditava-se que ninguém poderia mudar o curso divino das coisas se não fosse Deus.

"Queimada na estaca". Uma ilustração de um livro de meados do séc. 19. (Por Robert Benner - flikr)

Naquela época, as mulheres atraíam muita desconfiança da Igreja, ainda mais quando elas se mostravam habilidosas para lidar com alguma situação, seja preparando medicamentos ou atuando como parteiras; por esses e outros motivos, mulheres comuns eram acusadas de bruxaria.


Depois de muita tortura, as supostas bruxas acabavam "confessando" práticas indescritíveis, como beber sangue humano ou sacrificar crianças para rituais. Assim, por meio dessas confissões, o mito ganhou cada vez mais credibilidade, levando a mais perseguição e mais histórias de satanismo extraídas a força, criando um círculo vicioso. Muitos acontecimentos como: colheitas ruins, morte de gado, epidemias ou até mesmo secas ou chuvas fora de estação eram considerados motivos para sair procurando pelas bruxas.

A partir do século XVIII, a perseguição sofreu uma redução. A última execução aconteceu na Suíça, em 1782. Mas, acredite, em alguns países, ainda se “caçam bruxas”.

Só na última década, quatro pessoas foram julgadas, condenadas e executadas por bruxaria pelo governo da Arábia Saudita. Em maio de 2014, uma mulher foi caçada na rua e linchada até a morte na cidade de Guarujá, em São Paulo.

Akua Denteh foi espancada até a morte no distrito de Gonja Oriental, em Gana, após ser acusada de ser uma bruxa. O assassinato da mulher de 90 anos expôs mais uma vez os preconceitos arraigados contra mulheres acusadas de praticar bruxaria no país, muitas das quais são idosas.


Declaração dos Direitos da Mulher (1791)


Se a Declaração dos Direitos do Homem é considerada um marco decisivo na história moderna, é apenas por meio de um infamante silêncio que se omite a contribuição fundamental de Olympes de Gouges à história do que contemporaneamente se chama democracia. Ela é autora, em 1791, nos anos iniciais da Revolução Francesa, do primeiro manifesto público em favor dos direitos da mulher.

Olympes de Gouges (Foto: Quadro reprodução/internet)

Na linha da interpretação de Ute Gerhart em “Sobre a liberdade, igualdade e dignidade das mulheres: o Direito 'diferente' de Olympes de Gouges”, é incorreta e até preconceituosa a leitura do documento como uma mera paráfrase ou imitação da Declaração Universal dos Direitos do Homem, estendendo à mulher prerrogativas atribuídas aos homens. Olympes de Gouges recorre a uma interpretação não tradicional dos direitos naturais, para defender a igualdade na diferença, a igualdade da mulher no casamento, o direito à sua própria pessoa e afirmando como ilegítima qualquer ordem constitucional que não se baseie também no consentimento e participação política ativa das mulheres.


A Declaração dos Direitos da Mulher e da Cidadã foi publicada no Brasil no livro 'O dilema da cidadania. Direitos e deveres das mulheres', organizado por Gabriella Bonacchi e Angela Groppi (Editora da Unesp, 1994).


No contexto dramático da Revolução Francesa, por causa da sua crítica pública aos valores patriarcais e à violência do poder jacobino, Olympes de Gouges foi guilhotinada em 1793.


Lutas pelo Direito ao Voto


Até o início do século XX, o voto, na quase totalidade dos países, era um direito exclusivo doshomens – especialmente de homens ricos. No cenário de grandes transformações que foi o século XX, as ativistas que se mobilizaram pelo direito feminino à participação política ficaram conhecidas como sufragistas.

Cartazes sufragistas. (Foto: Reprodução/Internet)

Desde a Grécia e Roma antigas, cidadania e voto estão ligados. Apenas a alguns homens era concedida a condição de cidadão e apenas estes poderiam participar da esfera pública política.


Do século XVIII em diante, o ideal ocidental da cidadania plena baseada nos princípios de liberdade, participação e igualdade para todas as pessoas serve como parâmetro para o julgamento da qualidade da cidadania em um país.


O século XIX se caracterizou pelas lutas por direitos. Homens brancos e ricos já foram os únicos portadores de direitos civis, políticos e sociais. Percebendo essa estrutura de poder, a luta pelo sufrágio universal se dá pela busca do reconhecimento de todas as pessoas enquanto indivíduos cidadãos.


Na Europa, a luta das sufragistas se misturava à luta do movimento operário contra a exploração dos trabalhadores, atuando nos partidos de esquerda, socialistas e comunistas. A Nova Zelândia, em 1893, e a Finlândia, em 1906, foram os primeiros países a reconhecer o direito das mulheres ao voto.


Na Grã-Bretanha, o movimento das mulheres conquistou o direito ao voto após a primeira Guerra Mundial. O exemplo das mulheres britânicas espalhou-se pela Europa. Em alguns países, como Suécia e Noruega, o número de eleitoras superou o de eleitores.


Na Inglaterra, Mary Wallstonecraft já tratava dessa demanda em 'Reivindicação dos direitos da mulher', publicado em 1792. Mas o movimento pela participação política feminina chamou a atenção da opinião pública em 1903, as suffragettes fundaram o grupo Women’s Social and Political Union, que se organizou em quatro tipos principais de militância (técnicas de propaganda, desobediência civil, não violência ativa e violência física) e exerceu influência sobre outros movimentos de mulheres em quase todo o mundo ocidental.


Nas Américas, a Constituição dos Estados Unidos, promulgada em 1787, só em 1919 definiu o direito de voto para as mulheres, através da Emenda Dezenove. O movimento sufragista nasceu com a luta contra a escravidão em meados do século XIX e teve grande impulso das sufragistas inglesas.


As estadunidenses conquistaram o direito ao voto no início da década de 1920 por mudar sua abordagem – não mais falando sobre direitos femininos e feminismos, mas sim em direitos da raça humana e democracia – e por seu contato com as militantes inglesas. O Equador foi o primeiro país latino-americano a permitir que suas cidadãs votassem, em 1929. Alguns anos depois, seria a vez das brasileiras.


Somente há pouco mais de 80 anos as mulheres brasileiras conquistaram o direito ao voto, adotado em nosso país em 1932, através do Decreto nº 21.076 instituído no Código Eleitoral Brasileiro, e consolidado na Constituição de 1934.


A luta pelo voto já havia começado há tempos. O Brasil poderia ter sido a primeira nação do mundo a aprovar o sufrágio feminino. No dia 1º de janeiro de 1891, 31 constituintes assinaram uma emenda ao projeto da Constituição conferindo direito de voto à mulher. Tal emenda foi rejeitada. A ideia de mulheres atuando na esfera pública fora rejeitada por séculos em todo o mundo e levaria algumas décadas para que os mais elementares direitos fossem obtidos, ainda que mais no papel do que na prática.


No mapa abaixo mostra o ano em que as mulheres tiveram o direito de votar em cada país do mundo. (para conferir em alta qualidade, clique AQUI)


A Revolução Industrial e o incêndio de 1911


Na Revolução Industrial houve a absorção do trabalho feminino pelas indústrias como mão-de-obra barata e isso inseriu definitivamente a mulher na cadeia produtiva. A mulher cumpria jornadas absurdas de até 17 horas de trabalho em condições insalubres e recebia salários até 60% menores que os dos homens.


Ainda no final do século XVIII, a escritora britânica Mary Wollstonecraft levantava a questão de como a mulher era tratada. Condições subumanas, carga horária pesada e salários bem mais baixo do que o dos homens já eram apontados para mostrar quanto elas eram consideradas de forma diferente e, pior, como são até hoje.

“Por que as mulheres são comparadas a anjos, senão somente para deixá-las abaixo das mulheres? Elas só são anjos quando são jovens e bonitas, consequentemente, não é pela virtude que adquirem esta homenagem”, escreveu Mary Wollstonecraft, em 'A reivindicação dos direitos das mulheres', em 1792.


Assim, menos de 70 anos após a Revolução Industrial, em 1857, trabalhadoras de uma fábrica têxtil, apelidadas então de ‘funcionárias das vestimentas’, protestaram por melhores condições de trabalho em Nova York e o que ganharam a curto prazo foi uma violenta resposta de policiais.


Em 1908 (também em 8 de março), 15 mil mulheres se juntaram na cidade de Nova York e fizeram novo protesto reclamando por seus direitos e também protestando contra o trabalho infantil. Em maio do mesmo ano, o Partido Socialista da América estabeleceu que o último domingo de fevereiro seria o 'Dia Nacional das Mulheres', data mantida até 1913.


Em 1910, organizações socialistas se encontraram em Copenhague, na Dinamarca. Lideradas pela alemã Clara Zetkin, resolveram adotar uma data fixa para celebrar o dia delas no mundo todo. Ficou acertado que seria em 19 de março, e já no ano seguinte países como Dinamarca, Suíça, Alemanha e Áustria o adotaram.


Em 1911, porém, é que acabou dando força ao movimento. Novamente em março, mas agora no dia 25, 141 trabalhadores dos 500 presentes na fábrica, entre mulheres, crianças e adolescentes italianos e judeus europeus, morreram em um incêndio na companhia Triangle Waist Company. A tragédia acabou sendo chamada de, em livre tradução, o ‘trágico incêndio no Triângulo’.

A fábrica da Triangle Shirtwaist, durante o incêndio. (Foto: Reprodução/Wikipedia)

As causas desse incêndio foram as péssimas instalações elétricas associadas à composição do solo e das repartições da fábrica e, também, à grande quantidade de tecido presente no recinto, o que serviu de combustível para o fogo. Além disso, alguns proprietários de fábricas da época, incluindo o da Triangle, trancavam seus funcionários na fábrica durante o expediente como forma de conter motins e greves. No momento em que a Triangle pegou fogo, as portas estavam trancadas.

Capa do The New York Herald de março de 1911 com o incêndio da fabrica. (Foto: Reprodução/WAMMToday.)

O acontecimento em Nova York é significativo, pois evidenciou a precariedade do trabalho no contexto da Revolução Industrial. Isso, no entanto, não pode apagar a influência da luta operária e dos movimentos políticos organizados pelas mulheres. Sendo assim, é importante afirmar que o Dia Internacional da Mulher não foi criado por influência de uma tragédia, mas sim por décadas de engajamento político das mulheres pelo reconhecimento de sua causa.


Após os relatos desesperados e as histórias das condições subumanas que eram implantadas na fábrica, a revolução começava a dar voz e direito às pessoas, principalmente para as mulheres.


Lideradas pela União das Moças Trabalhadoras do Vestuário e da Liga da União das Trabalhadoras, conseguiram os primeiros avanços. Entre eles, de obrigar que as empresas mantivessem abertas as portas de emergência. Antes, os empresários fechavam todas alegando que havia furto de produtos.

Mão-de-obra feminina numa fábrica em França, 1916 (Foto: ARCHIVE OF MODERN CONFLICT LONDON/REUTERS

A data de 8 de março, porém, ganhou força na Rússia. Em 23 de fevereiro de 1917 pelo calendário Juliano, que coincidentemente caiu em 8 de março pelo calendário gregoriano, o czar russo Nicolau II foi obrigado a deixar o governo e garantir o direito ao voto das mulheres.


Oficialização do Dia Internacional da Mulher


A partir dos anos 1960, a comemoração do dia 8 de março já tinha se tornado tradicional, mas foi oficializada pela ONU apenas em 1975, quando essa organização declarou o Ano Internacional das Mulheres, como uma ação voltada ao combate das desigualdades e discriminação de gênero em todo mundo. Como parte desses esforços, o dia 8 de março foi oficializado como o Dia Internacional da Mulher.


O Dia Internacional da Mulher não é um mero dia voltado simplesmente a homenagens triviais às mulheres, mas diz respeito a um convite à reflexão referente a como a nossa sociedade as trata. Essa reflexão vale tanto para o campo do convívio afetivo, familiar e social quanto para as questões relacionadas ao mercado de trabalho.


Hoje


No século XX as mulheres começaram então a se organizar, buscando seus direitos, o que trouxe a inserção cada vez maior da mulher no trabalho, sendo o crescimento da industrialização no Brasil um dos grandes responsáveis por esta inclusão. Segundo a OIT - Organização Internacional do Trabalho as mulheres estão mais presentes nas vagas de emprego, embora ainda abaixo dos homens.


A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua de 2018, informa que o número de mulheres no Brasil é superior ao de homens. A população brasileira é composta por 48,3% de homens e 51,7% de mulheres.


A Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI) revela que de cada quatro pessoas empregadas da indústria, uma é do sexo feminino. Segundo o Portal ODS, as mulheres representam 32% da força de trabalho da indústria. Na indústria paranaense, segundo a Agência FIEP, a maior concentração da mão de obra feminina está na indústria de transformação. São 230,5 mil mulheres à frente das atividades deste setor, que engloba os segmentos: fabricação de produtos alimentícios, confecções e artigos do vestuário, fabricação de móveis, fabricação de produtos de borracha e material plástico. Proporcionalmente, elas estão em maior número nas atividades do segmento da moda. Das 68,4 mil vagas existentes em confecções e artigos do vestuário, 76% são ocupadas por mulheres.


O Sistema Fiep, por meio do Sesi no Paraná, lançou há três anos, em parceria com a ONU Mulheres, a plataforma Empoderamento das Mulheres – Trabalho e Valorização, com relatórios dinâmicos de indicadores sobre a situação das mulheres no Brasil, além de documentos de referência e boas práticas empresariais que servem como exemplo para o alcance da igualdade entre os gêneros. Segundo esta fonte, em 2018, 15,26% das mulheres ocupadas em empregos formais, estão na indústria. Neste mesmo ano o percentual do rendimento feminino em relação ao masculino era de 85,20% independentemente da escolaridade de ambos, isto é, os salários das mulheres eram 14,80% menores do que os dos homens no exercício da mesma função. Entre os cargos de nível superior, os salários das mulheres correspondiam a 64,13% do salário dos homens.


Como visto até aqui, as dificuldades, as superações e as conquistas das mulheres no mercado de trabalho vêm de longa data. Apesar disso, ainda há muito a ser falado sobre o tema e, diga-se de passagem, muito a ser melhorado.


Prova disso é um relatório, do Fórum Econômico Mundial, que conclui que a igualdade de gêneros só se dará – se continuarmos na evolução pelos direitos das mulheres – em 2095. E mais: a discrepância, falando de participação econômica e oportunidades femininas, chega a 60% ou mais. Quer mais um dado que parece surreal? No ranking de igualdade de salários, o Brasil é o penúltimo entre todos os países das Américas, perdendo só para o Chile (ocupamos o 124º lugar de 142 países avaliados).


Esse é apenas um cenário de toda a problemática que envolve as mulheres e os desafios na carreira feminina. Isso porque ainda é preciso lidar com o preconceito interno, o de não acreditar ser capaz de conseguir um cargo maior, um salário compatível ou ser reconhecida pelo o que faz.


Porém, apesar de muito desafio pela frente, a luta feminista já conquistou muitos direitos para as mulheres, não só no mercado de trabalho, mas na política e no social.


Parabéns a todas as mulheres por sua luta, garra, e acima de tudo, dedicação em tudo o que fazem.


(Ainda hoje (8) publicaremos um especial com Mulheres de Jardinópolis falando sobre as Mulheres.)

 

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